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Zulmira Celestino da Silva parece ter saído de dentro das figuras sertanejas que ela mesma esculpe em madeira. Orgulha-se de ser uma das mais antigas moradoras do bairro Parque Triângulo, em Juazeiro do Norte. Em sua família são muitos os artesãos e ela é uma das poucas mulheres que se aventuram nos domínios da arte. Mas orgulho maior de todos é seu filho Antônio Celestino. “Eu lavei roupa de ganho, roupa para hotel, para casa de família, trabalhei mais de dez anos na Casa do Artesão e tudo fiz para formar meu filho. Eu não sei ler nem escrever, mas meu filho é formado na faculdade daqui (fez Letras e mestrado em Sociologia) e pra isso eu trabalhei muito.” Apontando a foto do filho no dia da formatura, essa mulher franzina fala com uma força extraordinária. Seus olhos se arregalam, sua voz se embarga e um frenesi toma conta de seu ser.
Seu filho é professor, mas não conseguiu ficar longe das esculturas em madeira. Quando tem tempo ou encomendas, esculpe insetos enormes, surrealistas, que parecem abocanhar a realidade tão sofrida do sertão. Hoje Zulmira já não faz tanta peça. “Meu corpo não ajuda. Dói muito. Mas eu tenho que trabalhar. Estou brigando muito e esperando uma aposentadoria para me ajudar porque ainda tenho que cuidar do meu pai, que fica ali no quintal, na cadeira de rodas.” Ela não tem consciência da importância de seu trabalho. A memória muitas vezes falha, a repetição de histórias acontece, mas essa mulher é força pura e seu trabalho, hoje já muito restrito, é puro sertão. |