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Se existe uma pessoa que conhece bem a alma de Arapiraca, essa pessoa é Zezito Guedes (José Gomes Pereira). “Minha caminhada dá história para três anos de falação. Quando saí de casa, tinha 2 anos. Fui levado para a casa de meus avós e lá fiquei. Eu tive uma infância tumultuada porque minhas tias ameaçavam me mandar de volta para a casa de meus pais. Egresso da zona rural, cheguei a Arapiraca com 6 anos de idade. Meu tio comprou muitas vacas e eu fiquei tangendo as vacas para ele. Preferia isso a estudar. Adorava estar no mato. Quando estava no ginásio, perdi o primeiro ano e meu tio me colocou em um laboratório de prótese, como aprendiz. Aprendi muito bem. Aos 15 anos já era profissional. Mas nesse tempo meu tio duvidou da minha inteligência e eu fiquei muito magoado. Sendo bom no que aprendi, resolvi estudar para que meu tio não tivesse que pagar mais nada para mim. Mas aos 17 anos a gente é jovem, gosta de se divertir e de bagunça. Casei e fui ficando em casa. Como autodidata, fui sendo escultor. Comecei no gesso e na madeira. Participei do I Salão de Arte de Arapiraca e o crítico convidado me disse para abandonar o gesso. Disse para eu continuar na madeira, que eu tinha talento.”
Seu Zezito tem um trabalho de linhas simples e cheias de profundidade. Chegou a isso sozinho, só com sua sensibilidade para as coisas do sertão. Trabalha também ferro e pedra. “Arapiraca está diferente. Não temos mais a feira livre nas ruas, que reunia artesãos, mamulengueiros, cantadores, rabequeiros, bruxas, acrobatas, os ledores de mão, as bandas. Hoje está tudo fechado no tal calçadão. A feira, que chegou a abarcar 32 ruas, acabou e os turistas sumiram.”
Porém, seu Zezito é osso duro de roer. Amante das coisas da terra, compilou as Cantigas das Destaladeiras de Fumo de Arapiraca e defende a ferro e fogo os artistas e as tradições locais. |