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Alguns costumam dizer que o município de Caraí é uma região esquecida por muitos e, se duvidar, até por Deus. Encravada no sertão do Jequitinhonha, onde é mais fácil chegar a qualquer lugar no lombo de um jegue ou a cavalo, guarda tesouros preciosos.
O maior deles, sem dúvida, chama-se Ulisses Pereira Chaves. Ficou famoso entre galerias e colecionadores das grandes capitais brasileiras e do exterior. Suas esculturas ganharam o mundo, mas pessoas pouco escrupulosas começaram a copiá-lo sem maiores pudores. Ulisses Pereira continuou sua luta, sem arredar pé do Sítio Santo Antônio, onde sempre viveu.
Foi envelhecendo e sua arte foi se aprimorando. Seu inconsciente, as memórias e os tempos passados foram criando um universo só seu. “Eu conheço as forças da natureza, elas conversam comigo e eu com elas. Onde trabalho, ali tudo é da natureza. Os homens em geral não entendem isso. A natureza sabe tudo e ela nos dá tudo.”
Por isso, Ulisses tornou-se um defensor intransigente da natureza, não deixando que nada seja alterado e, ao mesmo tempo, dirigindo com mão de ferro o fazer e o viver de sua família. Ulisses não suportava máquinas fotográficas porque entendia que elas são geringonças que roubam a energia das pessoas e da terra e permitem que outras pessoas façam cópias de seus trabalhos.
Ele guardava suas peças longe dos olhos de todos, como temendo que possam ter suas energias sugadas ou que possam se reproduzir em massa, destruindo o rito de passagem e de criação que só ele foi capaz de compartilhar com as forças da natureza. A saber: a terra, o fogo, os ventos e a água.
Ulisses Pereira faleceu em dezembro de 2006, no decorrer deste projeto. |