Nas festas do Bumba-Meu-Boi o profano e o sagrado se misturam, mantendo a tradição de homenagear São João, o santo dos “boieiros”.
Os preparativos para a festa começam no sábado de Aleluia e vão até o dia de Santo Antônio. No dia 23 de junho acontece o batismo dos Bois, que assim deixam de ser pagãos e saem para se apresentar até o fim do mês. De julho até novembro, acontece a morte do Boi. As apresentações trazem sempre os mesmos personagens, que antigamente eram só interpretados por homens. Cada Boi tem um sotaque diferente (batida rítmica): de matraca, de baixada, de zabumba, de costa-de-mão e de orquestra. E seus personagens são quase sempre os mesmos, cheios de irreverência e alegria: o Boi, vaqueiros, índios e palhaços que interpretam o Pai Francisco, a Mãe Catirina e o Cazumba. Além disso, pode ter bichos e vários brincantes de cordão. Traz também muito brilho. Os bordados esmerados da roupa do Boi e das fantasias são trabalhosos, embora hoje a televisão esteja trazendo para a festa muitos efeitos especiais e coreografias que parecem ter saído da Marquês de Sapucaí.
“Mas isso não é Bumba-Meu-Boi.” Quem afirma isso categoricamente e com muito conhecimento de causa é Dona Terezinha Jansen, dona do Boi Fé em Deus. Além de ser descendente direta de Ana Jansen, importante personagem da história do Maranhão, Dona Terezinha acabou caindo no Boi porque é maranhense de corpo e alma. “Ser dona de um Boi é como ser dona de casa. Você tem que cuidar de tudo. Cuidar para que não faltem material, instrumento, comida, altar sempre enfeitado e tudo o mais.”
Para entender a história, o Boi Fé em Deus é de sotaque zabumba e foi fundado em 1930 por Laurentino, que nasceu no bairro Fé em Deus. Ele começou a brincar desde pequeno e já aos 15 anos bordou sua primeira peça. “Os bordados do Boi são uma arte especial. São poucas as pessoas com esse talento.”
Dona Terezinha primeiro foi eleita madrinha do Boi Fé em Deus. “Em 1977, a família de Laurentino pediu que eu assumisse o Fé em Deus. Ele pediu para minha mãe, que disse não ter nada contra. Eu achava que era coisa para homem, mas, diante da palavra de minha mãe, não podia ir contra e assim foi que me tornei dona do Boi Fé em Deus.”
Engana-se quem pensar que o Bumba-Meu-Boi é só um espetáculo folclórico. Ele é uma tradição tão forte que nunca maranhense algum leva na brincadeira. Assim que as festas juninas acabam, Dona Terezinha dá 15 dias de folga para todos e em seguida já se começa a trabalhar no próximo Boi e a se preparar para a morte do Boi.
“Com o cachê das apresentações, pagamos todas as despesas e vira e volta falta dinheiro. A gente tem ainda o Tambor-de- Crioula, que se apresenta até o dia 23 de junho. Depois, só o Boi. Todos os participantes são trabalhadores. Muitos dos brincantes são agricultores do interior. Aqui na cidade, incentivamos os jovens a participar. Eles começam pequenos e aos 12 anos já podem ser miolo (pessoa que carrega o Boi). Isso tudo é importante, fazer com que eles não fiquem na rua.
Aqui, no Fé em Deus, eles encontram a união da tradição pagã com a religião, numa festa sem igual.”
TEREZINHA JANSEN
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Montado na sede do Boi Fé em Deus
 
São Luís
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