Na casa onde vivem Sotera Sanchez da Silva e seu filho Mariano Antunes Cabral Silva, é forte a presença da ancestral famosa, Conceição dos Bugres – uma mulher que, como querendo se livrar dos maus espíritos, esculpia seus bugres em pedaços de madeira e recobria-os com cera de abelha. Bugres? Porque assim eram chamados os índios e os mestiços de índios. Cera de abelha?
Para eles ficarem brancos e bonitos.
O neto Mariano desde pequeno orgulha-se de ser o continuador desse trabalho. Seus bugres seguem as linhas do que fazia sua avó. A diferença fica na personalidade de cada um, nas feições que cada bugrinho ganha. Mariano também esculpe outras figuras, tão míticas como os bugres – as sereias.
Já Sotera, nora de Conceição, veio de Ponta Porã (MS). Seu sotaque não esconde as origens guarani e castelhana. Seu marido entalhava madeira e ela começou a se interessar. “Um dia, sonhei que estava esculpindo. Levantei, desenhei e comecei a fazer um totem, coisa de meus antepassados.”
Na casa, os dois pilares que sustentam a varanda são totens esculpidos por Sotera, que agora faz “galhadas” em troncos de goiabeira. Trabalhando como copeira na Universidade Federal, orgulha-se de ter uma de suas galhadas nos jardins da instituição.
SOTERA SANCHEZ DA SILVA E
MARIANO ANTUNES CABRAL
SILVA
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TOTEM
Escultura em madeira, de
Sotera Sanchez da Silva,
1,20 m de altura. Coleção particular
BUGRES
Esculpidos por Mariano, madeira recoberta com
cera de abelha, 19 cm e 20 cm de altura
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SEREIAS
Esculturas em madeira de Mariano.
Cerca de 30 cm de altura
GALHADA
Galho de goiabeira.
Cerca de 1,60 m de altura
Conceição Freitas da Silva
Conceição Freitas da Silva nasceu em terras gaúchas, no Povinho de Santiago, em 1914. Mulher carismática, chegou a Mato Grosso do Sul ainda criança. Morou em Ponta Porã (MS) e em 1957 aportou em Campo Grande. Viveu fazendo de tudo um pouco e sem nenhum conforto, dando forma aos pedaços de pau como quem aponta um lápis. Só que Conceição usava uma machadinha. Foi criando seus próprios bugrinhos, daí ser conhecida como Conceição dos Bugres.
Seus indiozinhos foram nascendo cobertos com cera de abelha. Num primeiro olhar, pareciam de pedra. Eles nasciam como um batalhão perfilado e amansavam a alma selvagem e inquieta da artista. Ela sabia indicar a diferença de cada um. Dizia que um olhava para cima, outro para o lado, aquele para frente – e assim parecia batizar cada um. Começou a fazer alguns com os braços esticados ou com braços semi-abertos, que foram poucos e hoje são raros.
Conceição dos Bugres tornou-se famosa, mas nem por isso sua vida mudou. Participou de várias exposições, ganhou vários prêmios, e seus bugres correram mundo. Talvez por necessidade, talvez somente por vontade, seu marido, Anísio, acabou também talhando pequenos bugres, iguais aos dela. No universo rude e hostil em que vivia, Conceição encontrava paz quando cortava madeira a golpes também rudes. O inóspito transformava-se então em simplicidade e delicadeza. Conceição dos Bugres faleceu aos 70 anos.
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BUGRE
Esculpido por Conceição dos Bugres.
Madeira e betume.
Acervo do Museu de Arte Pantaneira
de Aquidauana (MS)
BUGRE
Esculpido por Anísio, madeira recoberta com
cera de abelha, 15 cm de altura.
Coleção Rosilene Rosa (Aquidauana, MS)
 
Campo Grande
Aquidauana
 
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