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Quem passa pelo trevo de acesso da cidade de Areias (SP) a Queluz (SP), na região da Serra da Bocaina, certamente ficará impressionado com as enormes esculturas em madeira que ornamentam a praça ali existente. Elas representam os principais personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, do escritor Monteiro Lobato – expoente maior da região do Vale do Paraíba, que nasceu na cidade de Taubaté (SP). Essas figuras são como imagens de resistência frente à enxurrada de enlatados e super-heróis estrangeiros que as crianças brasileiras engolem todos os dias. A maioria delas talvez nem saiba da existência desses heróis infantis brasileiros, que, ali talhados em troncos de eucalipto, não deixam morrer um imaginário genuinamente nacional.
O responsável por essas obras chama-se Raymundo dos Santos Ribeiro. Mineiro nascido em 1937, em Belo Horizonte (MG), Raymundo desde menino sentia vontade de fazer coisas com as mãos. Começou fazendo seus brinquedos e, acompanhando o pai pedreiro, rodou um bocado por várias cidades até se assentar em Taubaté. Ali, mesmo com emprego público garantido, nunca deixou de cavoucar raízes e pedaços de pau. “Eu gostava mesmo desse trabalho. Aprendi sozinho esse caminho. Trabalhei com o artista Aristeu Monteiro e, um dia, vendi uma peça minha para a Caixa Econômica Federal de Taubaté, que foi um grande estímulo para mim. Outras pessoas apareceram e outras exposições foram programadas. Eram exposições sempre individuais e eu nunca gostei de levar peça repetida. O trabalho que garante a sobrevivência são os entalhes e placas. Faço de todo tipo, com letras grandes e cortadas profundas na madeira. Uma vez fiz 17 esculturas em troncos de árvores mortas para a Prefeitura de Taubaté.”
Hoje, Raymundo mora em Areias e trabalha em Silveiras, que se transformou num pólo de artesanato em madeira, em larga escala. “Eu sei que lá todo mundo faz a mesma coisa. Mas a cidade recebe muita gente e então posso mostrar minhas obras para muito mais pessoas.” |