RAIMUNDO XAVIER
CARNEIRO
LIA DAS CARRANCAS ADÃO XAVIER DOS SANTOS
No bairro Santa Terezinha, em Pirapora, pode-se dizer que todos são parentes. Para ali foi transferida uma comunidade de pescadores e carranqueiros que habitava o bairro de Nossa
Senhora de Aparecida, nas barrancas do rio São Francisco, depois que uma grande cheia quase destruiu o lugar.
A prefeitura então cedeu os terrenos e um grande galpão para que os carranqueiros trabalhassem. Eles permanecem ali durante todo o dia, esculpindo suas figuras assustadoras, espantadoras de mau-olhado e má sorte.
Entre eles está o jovem Raimundo Xavier Carneiro, de 20 anos. Ele e sua mãe sustentam toda a família com esse trabalho. Artesão dos mais aplicados, Raimundo trabalha todos os dias.
“A gente tem que dar duro. Lá em casa ninguém trabalha fichado (com carteira de trabalho assinada). Eu aprendi praticando todos os dias aqui no galpão, junto com minha mãe. Meu tio Sabino era um dos carranqueiros mais antigos daqui. O filho dele, Adão, também trabalha com a gente no galpão. A madeira que usamos é tamboriú, que temos que ter licença para comprar. O trabalho é muito, pois levo de quatro a seis dias trabalhando sem parar para fazer uma carranca grande.”
No galpão, as carrancas vão se perfilando e parecem todas iguais. Um olhar mais apurado descobrirá acabamentos diferenciados, cortes mais precisos e bordados mais detalhados.
Uma das poucas mulheres carranqueiras, Lia das Carrancas tem lugar garantido em Pirapora.
Batizada como Maria do Carmo Pereira de Arruda, Lia nasceu em São Paulo (SP), em 1973, e acabou indo parar em Pirapora quando tinha 14 anos. Sofreu um acidente e lá ficou. Acabou se casando com o carranqueiro Pascoal Antônio da Fonseca, sobrinho de Mestre Sabino.
“Eu ficava olhando eles fazerem. Então o Sabino me chamou para sentar lá do lado e aprender.
Na época eu era a única mulher e isso tornava as coisas difíceis. Para manter minha individualidade, acabei trabalhando sempre só e arranjei esta tenda aqui (na margem urbanizada do rio São Francisco, que corta a cidade). E hoje sou eu quem faço as maiores carrancas daqui, como fazia o Sabino. Olha que faço carranca maior do que eu mesma. Subo numa escada e pronto.”
Viúva há dois anos, toda a renda da família vem de seu trabalho com as carrancas, que desenvolve há 14 anos, ininterruptamente.
Adão Xavier dos Santos, filho de Mestre Sabino, chegou criança a Pirapora. “Viemos para trabalhar na roça, perto do rio. Meu pai sempre fazia umas pecinhas de toá, bichinhos e gamelas para a gente vender na feira. Quando viemos para Pirapora, ele via as embarcações com as carrancas e começou a fazer. Primeiro as carrancas pequenas, depois muito grandes e todos aqui aprendemos com ele. Eu, aqui, já trabalhei em roça e fui carvoeiro e me aposentei na metalúrgica. Agora fico aqui no galpão e vez ou outra faço umas peças.” Adão Xavier dos Santos nasceu em Brasília de Minas (MG), em 1956.
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De Raimundo Xavier Carneiro.
Madeira, 60 cm de altura
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CARRANCA DE TRÊS CABEÇAS
De Lia das Carrancas.
Madeira, 1,20 m de altura
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De Adão Xavier dos Santos.
Madeira, 80 cm de altura
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De Mestre Sabino. Madeira, 1,30 m de altura.
Acervo Casa do Artesão de Montes Claros (MG)
 
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