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Raimundo Saraiva Cardoso – Mestre Cardoso – aprendeu a lidar com o barro com sua mãe, Lucila (hoje com 101 anos), ceramista exímia e descendente direta dos Aruã, povo marajoara que habitava a região. Ela lhe passou todos os saberes ritualísticos que faziam aquela cerâmica ganhar vida, ser respeitada e entrar em completa comunhão homem/terra, significando respeito, agradecimento e valorização da natureza.
Mestre Cardoso foi considerado um dos grandes especialistas em cerâmica amazônica, seja pela sua ascendência direta, seja por seu esforço e interesse em buscar nos livros informações sobre essa arte milenar brasileira. Autodidata, deu muito banho de saber em cima de estudantes e pesquisadores, apesar de ter completado somente o curso primário.
Além das réplicas que fez com a autorização do Museu Emilio Goeldi, Mestre Cardoso seguiu um caminho seu. A figura feminina e amuletos eram a razão do seu fazer. Fala com carinho das mulheres de sua vida – a mãe, a esposa e as filhas – e quando está modelando parece que suas mãos seguem um ritual divino. As figuras surgiam sensuais, com a naturalidade genuína do índio. Um milagre que a gente via acontecendo na nossa frente e era impossível não se deixar emocionar. Era uma paixão; é arte.
Infelizmente, Mestre Cardoso faleceu em maio de 2006, enquanto trabalhávamos neste projeto.
Dona Inez de Lima Cardoso, sua esposa e companheira de toda a vida dedicada à cerâmica indígena amazônica, é uma mulher muito especial. Simples, como as pessoas especiais devem ser, é ela mesma uma escultora de mão cheia. Sua série dedicada à Serra Pelada (A Superpopulação do Mundo) é de uma beleza arrebatadora (ver a página seguinte). Dona Inez também bebeu nessa mesma fonte indígena, ingênua e gloriosa. É uma artista que vive, observa, sente e faz. |
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