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“Meus avós e tios eram navegantes no rio São Francisco. A carranca era usada na proa das embarcações para proteger contra o mau-olhado.
O comandante Esmeraldo, que era da companhia de navegação, chamava eles para fazer as carrancas e eu aprendi assim.”
É dessa maneira que Paulo Roberto de Jesus Santos explica por que é conhecido como Paulo das Carrancas. “Antigamente, quase todas as carrancas eram feitas por Mestre Guarany. Quando as embarcações pararam, as carrancas ficaram por lá, pelos lados de Pirapora (MG).
As carrancas dele tiveram a maior aceitação e ficaram mais conhecidas. Mas, por aqui, todo mundo fazia.”
Como o que acontece em todo lugar, a necessidade de fazer quantidades com preços mais baixos levou as carrancas tipo vampiro a proliferar de tal forma que os escultores mais exigentes foram deixando de lado esse trabalho. “Eu gosto das carrancas, mas ninguém dá muito valor. Faço só se alguém pedir.”
Toda a família de Paulo das Carrancas – ou Paulo Queimado, apelido que recebeu por causa das cicatrizes que ostenta pelo corpo – trabalha com madeira. “Fazemos móveis bem criativos, com madeira que compramos em derrubadas, nas construções, roçados, raízes que ficam dentro da terra e outras que iriam parar no lixo. Não trabalhamos com madeira verde. Aqui, costumo dizer aos meus filhos que a gente trabalha até com as unhas. Olhe que estou nesse trabalho desde os 13 anos; comecei com as carrancas. Hoje tenho 45 anos e toda a minha vida foi dedicada ao trabalho com essas madeiras. Se tivesse que parar hoje, não saberia que rumo tomar. A gente sempre tem um objetivo. O meu é chegar a uma vida melhor com a arte a que a gente sempre se dedicou.” |