Mirtes Rufino vive no meio da mata, rodeada pelos materiais com os quais gosta de trabalhar. Sua história, tão singular, é ela mesma quem conta.
“Passei por um período muito grave de depressão. Bravo mesmo, desses em que você não quer mais viver. Um dia, estava na beira do rio Madeira, que assim se chama porque sempre tem muita madeira boiando em suas águas, e vi ali um cemitério de madeiras. Vi um pedaço que tinha uma casca grossa. Peguei, comecei a descascar compulsivamente. Minhas unhas foram se arrebentando. Na mesma hora, vi que aquele pedaço de pau era um jacaré, ainda sujo com o sangue dos meus dedos. Sai chorando e fui arrastando aquele pedaço de pau até minha casa. Trabalhei nele durante uma semana, sem parar. No dia que terminei, recebi a visita de uma amiga de Curitiba (PR), que levou o bicho embora. Desde então nunca mais parei.”
Hoje, seus personagens são os povos da floresta, principalmente o seringueiro. As roupas, Mirtes impermeabiliza com o látex da borracha e esculpe todo o corpo em madeira.
Sobre o porquê do palhaço, ela diz: “Quando estava na pior, conheci um moço que era palhaço. Ele me ajudou muito, trouxe luz e riso para minha vida. Por isso não me esqueço dele e sempre vou fazer meus palhaços e palhaças”.
Seu trabalho hoje é reconhecido em todo o País. Já expôs em São Paulo (SP) e em outras capitais e tem certeza de que o público é seu termômetro. E ele diz que ela está no caminho certo.
MIRTES RUFINO
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PALHAÇO
Madeira, tecido, látex natural, guache e pigmentos,
cerca de 80 cm de altura

MOÇA (detalhe)
Trabalho em andamento. Madeira e tecido

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SERINGUEIRO
Madeira, tecido, látex natural e sementes,
40 cm de altura.
SERINGUEIRO
Madeira, tecido, látex natural e sementes,
40 cm de altura. Coleção particular
 
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