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Miguel dos Santos convive com arte desde menino. Ele nem imaginava como os seus brinquedos um dia seriam preciosos. “Meu avô era amigo de Mestre Vitalino e às terças e quartas-feiras ele ia para a feira de Caruaru (PE) e me trazia um boizinho, um hominho de barro.
Brinquedos feitos pelo Mestre.“
Mais tarde, Miguel foi para Palmeira dos Índios (AL) fazer escola técnica. No meio-tempo, ajudava um pintor. “Eu limpava as tintas do cavalete. Ficava por ali olhando. Um dia, fiz o retrato da minha avó e levei para ele ver. Ele disse: ‘Agora, quem não quer trabalhar com você sou eu. Você é um artista’. Ele conta que o avô viu o retrato e repetiu a afirmação. “Eu ainda não sabia muito bem o que era isso, mas gostei. Daí, segui em frente.”
Hoje, no pátio de seu ateliê, esculturas grandiosas de barro perfilam-se no jardim. Uma espécie de cartão de visitas para o que existe dentro da casa. Além das esculturas (que também recebem os visitantes no jardim de sua residência), Miguel pinta quadros, esculpe em madeira e mármore e hoje aperfeiçoa uma técnica que ele chama de litoplasma, com a qual consegue imprimir em azulejos desenhos que parecem ter sido feitos com ponta seca.
Seu trabalho sintetiza muito da alma nordestina. Une a religiosidade, o armorial, o calor, a secura e o mar. Miguel é um artista que, no limite do artesanal, do rústico, do popular, vai além. Seu domínio da técnica e sua mente irrequieta de pesquisador e inventor transformam seu ateliê em um verdadeiro laboratório de arte. Ali, as idéias ganham vida e expressão. |