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Muito já foi dito sobre a obra de Maurino Araújo. Mineiro, nascido em Rio Casca em 1943, cresceu no seio de sua família camponesa que fazia de tudo. “Nós plantávamos, fazíamos nossas casas, nossos utensílios e tudo o mais necessário. Acho que isso é uma herança antiga dos tempos dos quilombos. A minha vida deu muitas voltas. Fomos morar no Paraná, longe do barro dos utensílios e telhas que via meu avô fazer. Comecei a pegar papel e desenhar, e minha mãe foi minha primeira professora de desenho. Na escola rural, desenhava no quadro-negro. Nos anos 50, voltamos para Minas Gerais, agora para Belo Horizonte.”
Maurino diz que nos anos 60 encontrou a madeira porque o barro não tinha a resistência que buscava. Colocado como interno em um seminário em São João del-Rei (MG), seu talento logo impressionou os padres – que não gostavam de suas esculturas. “No colégio, conheci as obras de Aleijadinho e vou me maravilhando com esse universo barroco colonial.”
Como tantos artesãos e artistas deste país, Maurino começou mostrando sua arte na feira de artesanato da Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Ali, foi ganhando a atenção de críticos e apreciadores da arte popular. Sem maiores preocupações com definições e classificações acadêmicas, seu trabalho cresce vertiginosamente. “Eu participo de salões de arte e de exposições aqui no Brasil e no exterior, mas me encontrei mesmo quando conheci a África, no fim dos anos 70. Ali, parece que algo dentro de mim acorda, se rompe e começo a me entender melhor.” Maurino tem suas obras em museus e com colecionadores, mas parece começar a viver um novo momento em sua vida. “Estou saindo de dez anos de muita depressão, estou com muita vontade de fazer minhas coisas e viver.” Quem sabe, a pressão tenha sido grande demais para esse homem tão simples, sensível e de um coração cheio de graça. Suas peças mais recentes voam para muito além do barroco e parecem um grito doce de quem encontrou a paz e a identidade tão procuradas. Maurino é África, é Minas, é Brasil. Se alguém estiver preocupado em defini-lo como artista, como estilo, não se engane mais. A melhor definição foi dada por Emanuel Araújo, na apresentação de um catálogo de exposição: “Maurino é um anjo escultor”. |