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Sentada junto à porta da cozinha, Dona Maria Amélia da Silva não precisa de muito espaço para moldar suas figuras de barro. Levanta-se com dificuldade, “porque os ossos doem”, e tem um prazer imenso em contar suas histórias e mostrar suas bonecas e santos.
“Meu pai, Mestre Dudi, era oleiro aqui em Tracunhaém. E foi aqui que nasci em 1926 e aqui me criei. Antigamente havia muito trabalho. Até os encanamentos eram feitos de barro e muito bons. Meu pai fazia também louça e sabia tudo do barro. Eu criança, com 7 ou 8 anos, brincava por ali e fazia uns bichinhos. Papai então pedia para fazer mais, para ele levar na feira do Recife. Eu achava que ele jogava fora aquilo tudo e quando chegava me dava uns vinténs. Achava que fazia aquilo para eu não ficar correndo pela rua. Eu então pegava lagartixa, cachorro e outros bichos. E fazia igual.
De noite, gostava de brincar de boneca. De dia, ajudava minha mãe.
E os moleques falavam que de noite as bonecas faziam caretas para a gente e eu ficava com muito medo.
Continuei fazendo meus bichos. Fiz até carrancas. A gente vende quando vem gente de fora. Aqui é muito pobre. Meu marido era guarda-noturno e criei nosso filho mais os enteados. Todos muito bons. Trabalhei no núcleo de artesanato. Lá tem o barro, tem o forno. Mas agora eu não posso ficar carregando as coisas. Faço aqui mesmo em casa. Meus santos e bonecas são assim, como eu vejo.” Rostos arredondados como o dela, com uma expressão singela e maternal. |