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Paraense de Breves, Marcelino dos Santos Borges está há mais de 20 anos em Manaus e seu mundo são os barcos e os rios. “Conheço bem os barcos do Pará, mas faço só os do Amazonas”, diz com orgulho. E vai falando sem parar: “Aqui tem o barco do beiradão, o de carregar peixe, o de recreio, o da Escadaria de Remédios, que vai parando em todas as vilas”, e assim por diante.
Calafate profissional, seu Marcelino já foi plantador de juta e estivador. Casado e com filho pequeno, trabalhando no porto de Breves, ouvia todo mundo falar que, dali a algum tempo, futuro mesmo só para quem tivesse o segundo grau.
“Então decidi vir para Manaus atrás desse tal de segundo grau e encontrei. Todos os meus filhos têm esse segundo grau.”
Trabalhando em uma loja na Central de Artesanato Branco e Silva, em Manaus, ele conta que, quando chegava a vez dele na estiva
(a chamada era por numeração), os colegas ligavam para ele, que descia correndo para o porto. Nesse meio tempo, ficava esculpindo seus barcos em talos de buriti.
Sua única reclamação é a falta de interesse dos jovens para essa arte tão singular e a pouca ajuda do governo nesse sentido. “Essa arte vai acabar. Eu já vou me aposentar e sou um fazedor de barcos de brinquedo. Mas o que fazer? Aqui só se ganha fama quando a gente morre.” |