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Manuel Gomes da Silva – Mestre Nuca ou Nuca de Tracunhaém – tem uma explicação simples para o seu trabalho em barro: “Sou do signo de Leão”. Talvez os astros ajudem, mas a explicação está nas mãos que moldam e esculpem, em uma faina que envolve toda a família – orgulho de Mestre Nuca.
“Toda vida minha família trabalhou em engenho de açúcar, em Nazaré da Mata (PE), onde nasci. Em 1940, tinha uns 8 pra 9 anos, quando chegamos a Tracunhaém. Eu já amassava umas bolinhas de barro. Meu pai arrumou um terreno, construiu um rancho e a gente ficou na cidade. A vida no canavial é muito dura. Aqui a gente cuidava do nosso roçado. Tinha muito barro por aqui. Eu fazia panelinha, cavalinho para brinquedo, ferro de engomar para as meninas brincarem, bonecas e tudo isso era levado para as feiras de Carpina. Já grande, continuei fazendo, pois achava que tinha gente demais fazendo santo por aqui. Então resolvi que ia fazer coisa diferente. Um leão e um cachorro. Era mais ou menos 1968 para 69. Minha mulher, Maria, ajudou. Então, recebi um pedido do Recife. Isso foi lá pelo ano de 1970. Nunca tinha feito isso antes. Fiz o bicho e Maria inventou o cabelo. Ela resolveu que ia botar no leão o cabelo das bonecas que eu fazia. Nas bonecas, ela era quem enfeitava e colocava os cabelos. Foi assim que surgiu o leão cacheado, que ficou logo muito conhecido. Eu fiz também o leão com cabelo liso e parece que gostaram também. Isso foi muito bom, porque quando comecei nem imaginava viver só da arte. Com ela, conheci o mundo e criei minha família.” Hoje, os filhos Guilherme, Marco e Marcelo continuam o trabalho do pai, buscando, gradativamente, suas preferências e linguagens próprias. As filhas, segundo ele, não quiseram aprender. Mas os netos já ficam por ali, amassando bolinhas de barro.
Mestre Nuca, que se restabelece de um derrame recente, fala com muito amor de Maria, que hoje não pode mais trabalhar como gostaria. Por conta de um diabetes, está em uma cadeira de rodas e com a visão quase completamente comprometida. “A gente inventou isso brincando. Juntou-se o pensamento meu com o de Maria e inventamos o leão cacheado.” Deu certo. |