Lá no meio do Vale do Jequitinhonha, em terras onde antigamente se dizia que as pedras preciosas brotavam do chão como grama, uma mulher irradia tanta alegria que até a seca forte e as chuvas sem controle não são capazes de abatê-la. “Minha filha, a vida está descontrolada, mas eu não posso me queixar. Sempre estive aqui, trabalhando no meu tear. Houve tempo em que nossa atividade caiu muito, mas criei oito filhos com esse trabalho. Eu amo o que faço, eu gosto de preparar os fios, tingir e fazer esses panos todos. Cada colcha que faço leva um bocado de fios! E eu capricho no meu acabamento. É isso que faz meu trabalho valer mais. Explico isso para os jovens, mas eles não entendem. Eles têm pressa para tudo e aí sai malfeito. O que é feito com as nossas mãos não pode ter pressa.”
Dona Leontina Gonçalves Oliveira Amaral, nascida na roça ali perto em 1939, conta que na região sempre houve algodão. “Mas com o tempo, acho que até por falta de plantio grande, ele começou a ficar sujo. Então hoje compramos de fora. Hoje, aqui em Berilo temos 90 pessoas trabalhando em torno do algodão, entre fiandeiras e tecelãs. Mas carece do povo valorizar melhor nosso trabalho. Eu sei que essa arte nossa é única aqui no Vale e acho que talvez no Brasil.” Nos tingimentos, Dona Leontina emprega pigmentos naturais como a casca de angico, a anileira, a casca do jatobá ou folhas de manga e de mamão. Quando necessário, compra pigmentos industriais.
LEONTINA GONÇALVES
O. AMARAL
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COLCHAS (detalhes)
Algodão cru e tingido
ROCA
De Dona Leontina, ainda usada
para fiar algodão
 
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