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A tradição do barro na Bahia vem de muito longe. Tem suas raízes fincadas nas técnicas indígenas que se misturaram aos saberes trazidos da África e também da Europa.
Um dos locais mais conhecidos na Bahia pelas peças de barro decorativas e utilitárias é Carro Quebrado, povoado do município de Rio Real, distante cerca de 200 quilômetros ao norte de Salvador (BA). Também não quebrando a tradição, as mulheres é que sempre estiveram envolvidas nessa arte que foi passada de mãe para filha há várias gerações, quase sempre ligadas por parentesco ou compadrio. Também por necessidade, potes, quartinhas, panelas e moringas eram elaborados com capricho para serem vendidos nas feiras. Eram utensílios domésticos por excelência.
Assim como Dona Nitinha – Josefina dos Santos –, quase todas as mulheres louceiras aprenderam o ofício com Dona Maria da Graça, nascida em 1930 e irmã de Dona Nitinha.
“Agora sou eu que ensino. Na verdade, já ensinei muita gente. Nasci em 1939 aqui em Carro Quebrado e aqui me casei e criei meus filhos. O barro, sempre amassei e ainda ajuda na nossa sobrevivência, que depende da aposentadoria do meu marido, lavrador. Eu gostava de fazer outras figuras, como a minha boneca. Mas o que vende mais são os nossos potes.”
Para não dizer que a história se repete, Livramento – Maria do Livramento Borges – nasceu no povoado de Araújo, também em Rio Real, em 1961. “Eu tenho pouco estudo (cursou até a terceira série primária), mas de potes entendo muito. Já estou há mais de 20 anos nesse trabalho. Tenho aqui meu canto e ainda cuido da roça de mandioca, milho e feijão. Sem falar das galinhas. Minha filha me ajuda a pilar o barro, que vem de Salgado Grande.” A técnica de construção utilizada é a dos roletes grossos que vão sendo erguidos e alisados. O engobe é feito com o tauá, argila bem diluída e aplicada em várias mãos. O brunimento pode ser feito com pedra ou com a semente de mucunã, que é como elas chamam o popular olho-de-boi.
Livramento explica que os desenhos vêm por último. Podem ser planos ou em relevo e, como as rendeiras de bilro, os desenhos vão se repetindo com poucas variações, mas com a mesma delicadeza aprendida há várias gerações.
As dificuldades são muitas e ambas reclamam que a venda anda pouca. “Ganhamos uma casa para trabalhar, mas só vendemos quando vem gente aqui. Então vamos fazendo e esperando alguém chegar.” |