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O menino José Lopes da Silva Filho tornou-se Mestre Zé Lopes por puro merecimento e persistência. Nascido num sítio em Cortesia, município de Glória do Goitá, quando vinha para a cidade ficava em volta do mercado de farinha ouvindo os mestres anunciar seus espetáculos de bonecos ou de mamulengo. “Eles armavam seus bonecos para fazer propaganda. Eles se apresentavam nas fazendas, nas vilas. Meu pai, que era tratorista, queria que eu estudasse e me tornasse um engenheiro.
Ele morreu quando eu tinha 4 anos. Ele não viu, mas hoje sou um engenheiro de mamulengos.”
Quando tinha 10 anos ele fez um boneco. “Era a minha cara. Até hoje trabalho com os bonecos que fiz desde essa época. Parecia que eu já sabia fazer. As histórias vão encompridando porque mais bonecos vão surgindo. Hoje existem o rádio e a televisão. Existem a violência e as drogas. Naquele tempo, a única droga que existia era o fumo de corda. Então a gente tem que falar com os mais jovens também sobre as coisas de hoje em dia.” Mestre Zé Lopes fala emocionado dos seus mestres, citando três com muito carinho – João Nazário, Severino da Cocada e Zé Grande. Hoje ele trabalha no Museu do Mamulengo, no centro de Glória do Goitá, ensinando outras pessoas e criando e reformando suas dezenas de personagens.
“Eu nunca me esqueço que, quando era bem garoto, o boneco articulado de um homem quebrou. Eu disse a ele que poderia consertar. Ele me disse que, se eu quebrasse, eu morreria. Abri a cabeça do boneco, vi como era a coisa. Consertei o boneco do homem e fiz um para mim.
Aí ele falou: ‘Você é danadinho! Levou o meu pra poder aprender a fazer, né?’ E foi assim mesmo. Aprendi e muito bem.” |