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No ano de 1956 veio ao mundo José Cornélio de Abreu. Mais exatamente, na cidade de Campo Maior, no Piauí. De família muito pobre, Mestre Cornélio conta que naquela época “a gente tinha que se virar. Lembro que, na igreja, o padre italiano dizia que tínhamos é que trabalhar”. E foi nesse ambiente que ele se viu entalhando madeira.
“Um dia surgiu a questão da construção da igreja. Meu pai, carpinteiro, fazia o teto da igreja. O padre olhou para mim, ajudante, e disse que eu iria fazer o Cristo. ‘Você tem talento’, ele disse. Nessa semana, chegou o famoso escultor Carlos B (Barroso), do Ceará. O padre viu a notícia no jornal e trouxe o Carlos B na minha casa.”
Sem dinheiro, acharam um galho de cajueiro e nele esculpiram o Cristo. Saiu com um braço torto, porque o galho era assim.
“O Carlos B me ajudou muito. A primeira calça comprida que vesti foi ele quem me deu. Eu achava que a arte não dava dinheiro, porque eu não entendia o que é arte. Hoje entendo bem e sei que as coisas têm que ser assim – seja feio, mas seja você mesmo.”
Ele conta que, no Piauí, ”essas coisas de artesanato começaram a se organizar em 1973. Nessa época, cortei uma tora de flamboiã, carreguei na bicicleta e fiz uma carranca com cara de jumento. Levei para o centro artesanal, mas a diretora achou horrorosa. Dois dias depois, ela me chama. Tinha vendido a um turista. Ganhei 300 cruzeiros, que era muito dinheiro.”
“Depois, teve um concurso de presépios em Teresina e todos os mestres já tinham entregado seus trabalhos. Eu ficava olhando tudo aquilo. No último dia, entalhei um presépio e botei lá todos os animais. As pessoas ficavam perguntando por que eu tinha colocado a cobra. Ora, cobra não é bicho? Eu tirei o segundo lugar.”
Sempre falante, Mestre Cornélio defende a liberdade de criação que o artista tem. “Eu não gosto desse negócio de misturar arte e design.
Os trabalhos precisam ter originalidade. Misturando arte com outras coisas, fica muito complicado. Parece que vem um rolo compressor e passa, deixando tudo planinho e igual. E isso não é arte. Assim vira tudo só mercadoria.”
Com a morte de Mestre Dezinho, Mestre Expedito e Mestre Cornélio são os mais velhos nessa tradição de santeiros e entalhadores do Piauí. |