|
Filho de Joana Isabel, conhecida pelas suas figuras moldadas em barro, Zé do Carmo (José do Carmo de Souza) nasceu em 1933, em Goiana. “Minha mãe ensinou eu e mais dois irmãos. E quase todo mundo na cidade que hoje trabalha no barro aprendeu com ele e comigo. Meu irmão João Antônio de Souza continua trabalhando, mas no Rio de Janeiro.”
Zé do Carmo hoje tem dificuldades para trabalhar com o barro. Então começou a pintar. “São as minhas figuras mesmo. Antes, minha mãe não deixava eu colocar asas. Ela não aceitava meus anjos com cara de gente nossa. Anjo tinha que ser bonito, clarinho, como os italianos. Só depois que ela morreu, em 1974, coloquei asas nos meus sertanejos, cangaceiros e nas figuras outras de gente como a nossa. Mas é muito duro viver só da arte. Meu filho está estudando coisas de computador, não quero que ele tenha que viver da arte.”
Zé do Carmo manteve sua família só com sua arte e tem opiniões bem claras sobre ela. “O que eu não gosto é trabalho de encomenda. Limita muito a gente, bitola. Hoje existe essa mania, que acho que é conseqüência da época. As lojas têm a mania de igualar tudo. Isso mata a arte. Antes, as pessoas diziam assim: ‘Veja o que você tem de melhor e traga’. Agora, você deixa de ser autor para parecer uma máquina.”
Seus anjos tão sertanejos e brasileiros são rústicos, fortes e, ao mesmo tempo, pura poesia. Zé do Carmo ficou triste uma vez. “Fiz um anjo cangaceiro para dar ao Papa João Paulo II quando ele veio ao Brasil. Mas a Igreja não aceitou. Vai ver é porque meu anjo não tinha a cara de italiano.” |