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Os olhos azuis não conseguem esconder as raízes de seu Jorge de Oliveira Brito. “A gente sempre viveu aqui em Visconde de Mauá, onde nasci em 1935. Meu pai e minha mãe foram criados aqui, e minha mãe morreu aos 100 anos, sem nenhuma doença. Somos descendentes dos índios Puri, que existiram na região.”
Certamente nativos e imigrantes europeus se encontraram em algum ponto dessa história e seu Jorge Brito (como é conhecido) veio ao mundo para alegrar todos os corações. Trabalhou sempre na lavoura, se aventurou como pedreiro e felizmente um dia encontrou pela frente a escultura da cabeça de um boi, feita em madeira. “Foi na casa de um primo, onde pousei por uma noite. Fui dormir pedindo a Deus que me ajudasse a fazer uma coisa daquela. Vim embora e, na mata, arranjei um pedaço de pau e fiz uma cabeça. Ficou meio de lado, mas era uma cabeça de boi.” Seu Jorge seguiu fazendo bichos cada vez melhores. “Eu fiquei um tempo tomando conta da casa do artista Roberto Magalhães e lá desenterrava tocos e raízes e fui fazendo meus bichos. Um dia ele me disse que eu tinha que pintar meus bichos. Eu achei estranho porque nunca tinha feito isso. Fazia rústico. Ele trouxe a tinta. Eu esperei e de noite pintei. Achei esquisito. Ele gostou muito e disse que era isso mesmo, que cada um tem um tipo de pintura. Fiquei admirado, porque ele é um artista famoso.”
Seu Jorge segue desenterrando raízes, catando troncos no fundo dos rios e tirando de dentro deles o que seu coração imagina. “Às vezes um pedaço de pau vai apodrecer ou vai rodar na água e desaparecer. Então eu transformo ele num bicho ou num peixe. Pode ser um tronquinho só, mas um dia já foi uma árvore e deu abrigo a muito passarinho. Então transformo ele num passarinho. Acho que assim a natureza fica feliz.”
Generoso, seu Jorge toca viola, dança o sapateado das festas religiosas e profanas, ensina essa tradição às crianças nas escolas e faz poesia. “Escrever não sei, mas poesia eu faço.” |