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Dois dos filhos de J. Alcântara – Joe e James Alcântara – cresceram vendo o pai trabalhar e tomaram gosto. Joe (28 anos) conta que J. Alcântara ensinava e cobrava muito. “Isso está mais para urubu do que para tucano, meu pai costumava dizer. Então a gente tinha de refazer e fazer de novo, até que estivesse bom, perfeito.” Por isso, continuam a estudar a anatomia animal e os detalhes das penas, do pêlo, das patas, das asas. E o mesmo acontece em se tratando dos detalhes das plantas.
As peças pequenas levam em média 40 dias para serem finalizadas, mesmo porque a madeira precisa de tempo para “apurar”, ou chorar, como dizem os marceneiros. De acordo com Joe, as pessoas costumam dizer que na Amazônia a madeira não seca por causa da umidade. “Não é verdade. Os troncos grandes secam sim, mas levam uns seis anos. Daí o trabalho ser difícil. A gente precisa entender a madeira na qual está trabalhando para não errar, não deixar rachar.”
James (23 anos) faz mais entalhes. “Toda a produção tem destino certo, o que é fundamental, pois é daí que tiramos nossa sobrevivência.” Eles se revezam no ateliê-loja que possuem na Central de Artesanato Branco e Silva, em Manaus. As madeiras utilizadas são reaproveitadas de derrubadas na vizinhança, nas matas e algumas são compradas nas serrarias locais. Eles concordam que, se não fosse o trabalho iniciado pelo pai, hoje em Manaus não haveria tanta gente esculpindo e entalhando na madeira. “Mas é preciso ser bom e estudar sempre. A gente trabalha direto, desde manhã até à noite. Trabalhando muito assim, dá para tirar o sustento com a arte.” |