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Joaquim José Alves recebeu duas grandes responsabilidades. A primeira, zelar pelo museu que leva o nome de seu sogro e tio, Mestre Dezinho, santeiro famoso no Piauí e responsável por inaugurar uma trajetória que fez surgir neste Estado grandes escultores de arte sacra. A segunda, ter sido nomeado uma espécie de sucessor pelo próprio tio.
“Eu sempre trabalhei com meu tio. A bem dizer, ele é que me preparou. Mas as nossas peças têm diferenças. Pode-se notar já pelo rosto. E, também, gosto muito de desenvolver figuras regionais, não só santos.”
Mestre Kim, como ele assina suas peças, nasceu em Teresina, onde veio encontrar o tio, que saiu de Valença (PI), para fazer os filhos estudar. “Quando eu estava no primário, gostava de pegar um pedacinho de gilete e esculpir nos lápis. Fazia também no giz. Hoje trabalho no cedro que vem do Pará, pois o nosso cedro é muito rachador.”
Ele esculpe diretamente no bloco, sem desenhar. “Desenho mesmo os bordados das roupas. Meu tio criou muitos desenhos. Ele mesmo colocou cajus e flores na roupa dos santos. Acho que para parecer mais as coisas daqui.”
As imagens e figuras de Kim possuem realmente um rosto mais afilado, mais trabalhado. Pouco a pouco, o seu trabalho vai se desenvolvendo e criando uma linguagem própria, diferente do traçado de Mestre Dezinho, que é mais simplificado e marcado pelo seu início na escultura, a fisionomia dos ex-votos. |