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Irinéia Rosa Nunes da Silva nasceu em 1948, na Comunidade Quilombola de Muquém, no município de União dos Palmares, em Alagoas. “Aqui, desde que me entendo por gente, já se faziam potes. Minha mãe já fazia, minha avó e acho que antes dela quase todas as mulheres também eram poteiras ou louceiras.”
Seu marido, Antônio Nunes, do alto dos seus 64 anos, confirma a história. “Eu mesmo fazia telha, dobrando na perna. Minha mãe fazia panelas e minha primeira esposa também.”
Porém, uma coisa Dona Irinéia gosta de lembrar. “Eu sempre fazia peça pequena para brincar. Bichinhos, panelinhas, bonequinhas. Sempre gostei mais disso do que das louças. Um dia tive pedido para fazer essas pecinhas em tamanho maior. Também gente do governo e outros estiveram por aqui e pediram. Foi bom, porque gosto de fazer. Mas no começo havia muita mangação. Diziam que eram bonecos para macumba. Eram ex-votos. Mas nós somos da terra de Zumbi, somos descendentes dele e é assim que eu me vejo. Quando viram que eu vendia para gente da cidade, pararam.”
Hoje, no pequeno povoado de Muquém, mais ou menos 12 pessoas vivem da modelagem no barro. Dona Irinéia explica que muitas estão paradas porque falta espaço para trabalhar. “Estamos esperando o galpão que o governo prometeu. Nossa pobreza é muita e quase ninguém dispõe de recursos para ter um cobertinho onde amassar seu barro. Depois, o ruim é que a gente só arruma dinheiro quando vem alguém aqui. Tudo é levado para Maceió (AL) e a gente só recebe depois de vendido. Por isso, temos que trabalhar na nossa roça e os mais novos trabalham na cana ou na usina. Mas estou contente. Fui sorteada pelo governo para ser uma mestra. Vou ensinar aqui quem queira aprender e com isso vou ganhar um salário!” O salário, ela sempre mereceu até porque trabalha desde criança e tomara que suas lições formem outras Irinéias, cheias de vida e coragem. |