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O BARRO
O barro é misturado com a cinza da casca do carepé e peneirado e pilado. Depois de pronta, a louça é pintada internamente com resina de jutaí, ou jatobá, mais conhecida como breu. Assim pode ir ao fogo e receber água
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Irene Souza Barreto é uma das 16 louceiras da Comunidade de Maruanum e ainda hoje cozinha nas panelas que faz e no fogão que aprendeu a modelar com as louceiras mais velhas. Elas ainda repetem o ritual aprendido com as avós e mães. São todas vizinhas, mas para chegar à casa de cada uma é preciso “pegar a canoa, atravessar igarapés e caminhar um tantinho”.
Conta a lenda que em Macapá (AP), depois de terminada a construção da Fortaleza de São José do Macapá, em 1782, negros e índios que ali trabalharam foram alforriados e saíram procurando um lugar para morar. A cerca de 200 quilômetros da capital, chegaram perto de um rio, em um lugar com muitos anus. Daí, o nome da comunidade, Maruanum, ou seja, “mar de anuns” ou anus. Perto dali, extraíam o barro para fazer louças e havia um ritual mágico para isso. As mulheres grávidas e menstruadas não participavam. As louceiras cortavam uma vara e cavoucavam para retirar a argila. Faziam oferendas e não podiam usar lâmina de metal para não ferir as veias da terra. Contam as mulheres mais velhas que a camada de barro retirado se recompunha e elas marcavam o local e voltavam depois para ver.
E o que mais surpreende Irene é saber que em vários outros locais do mundo e do Brasil, louceiras ou ceramistas como ela usam a mesma técnica para modelar o barro (rolete) e o mesmo tipo de queima (lenha). “Deve ser que Deus ensinou a gente assim.” |