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A história de Getúlio Damado desde cedo teve a ver com bondes ou trens. “Eu sou mineiro, nasci lá por 1955, em Espera Feliz, Minas Gerais, e lá no interior a gente ouvia dizer que o mineiro era tão bobo que, quando chegava ao Rio de Janeiro, queria comprar o bonde e se alguém aparecesse vendendo, o cara comprava. Mas um dia vi na televisão o bonde de Santa Teresa passando nos arcos e aquilo não saiu de minha cabeça. Depois da Copa do Mundo de 78 eu vim embora para o Rio.”
Filho de agricultores de ascendência italiana, Getúlio, com um ano e três meses, passou a viver só com o pai e, depois da morte deste, em 1971, perambulou por casa de parentes e fazia um pouco de tudo para seu sustento. Ironia do destino, assim como o que aconteceu com sua mãe, vê a esposa ir embora e fica sozinho com dois filhos pequenos para cuidar. “Aí tive que ser pai 24 horas e arranjar trampo para dar conta. Com meus filhos, andava pelos bairros vendendo balas e oferecendo meus serviços de funileiro, até vir parar em Santa Teresa.”
Getúlio montou uma banca na rua Leopoldo Fróes, em frente ao único supermercado do bairro. Ali fez muitos amigos e, defensor do bairro, foi diretor comunitário durante seis anos e dali observava o bondinho passar. “No meio-tempo, eu comecei a pegar as coisas que encontrava na rua e montava pequenas geringonças. Comecei a fazer o bondinho de madeira, pintado de amarelo e com corações vermelhos. Ele era assim quando cheguei. Meus bonecos surgiram para complementar o orçamento. Só o conserto de panelas não dava. Eu fazia as coisas e deixava aqui. Algumas pessoas foram se interessando e compraram.” Assim continua vivendo, criou seus filhos e construiu um ateliê-bonde para trabalhar. À sua volta, seus bonecos e personagens encantam quem por ali passa. Getúlio já é um patrimônio do bairro de Santa Teresa. “Quero continuar vivendo aqui. Hoje, já sou mais famoso no estrangeiro do que aqui no Brasil. Quero continuar defendendo a arte e a filosofia do Chico Mendes porque a natureza é tudo que a gente tem. Eu só me ocupo daquilo que é jogado fora, transformo eles e todos têm nome.” Getúlio ainda conserta panelas e tudo o mais que pedirem, mas suas criaturas são o que existe de mais singelo e são uma espécie de retrato da vida e andanças desse grande artista. |