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A região do Jalapão situa-se entre a capital do Estado, a cidade de Palmas, e as divisas dos Estados do Maranhão, Piauí e Bahia. Ela vai se anunciando aos poucos, com caminhos de areia, até que se chega ao povoado de Mumbuca, que reúne em seu centro meia dúzia de casas; as outras ficam no entorno. A única construção de alvenaria abriga de um lado a escola e de outro o barracão-loja que guarda o tesouro dourado – as peças feitas com o capim-dourado. Elas têm venda garantida e garantem uma vida melhor para todos. É certo que em todo o Estado do Tocantins podem-se ver tabuletas dizendo “Artesanato com capim-dourado”, mas poucos possuem a qualidade e beleza dos que foram ensinados ali por Dona Miúda. A velha mestra, hoje adoentada, fincou sementes por toda a região.
Há mais ou menos nove anos que o capim-dourado ganhou fama no País e no exterior. A costura ensinada por Dona Miúda foi aprendida com os índios e garante a qualidade do trabalho.
O capim-dourado (Syngonanthus nitens) pertence à família das sempre-vivas Ericauláceas e é encontrado só no Jalapão e tem data certa para ser colhido – mês de setembro. Ironia do destino, ele floresce melhor depois da queimada. E agora que as queimadas estão proibidas, a comunidade de Mumbuca espera que organismos governamentais ajudem a conseguir a semente do capim (para ter matéria-prima para trabalhar durante um ano, cada artesão necessita cerca de 20 quilos de capim-dourado).
A mesma reclamação partiu de Durvalina Ribeiro de Souza, nascida no Jalapão e há sete anos trabalhando em Palmas, para onde veio para tratamento médico. Certamente, hoje ela é uma das melhores artesãs formadas pelas mãos de Dona Miúda, que na verdade ensinou sua mãe, Alzira. A qualidade de seu trabalho, os “bordados” diferentes fizeram com que fosse escolhida para representar aqui os trabalhos com o capim-dourado. Ela recorda que o pai levou suas primeiras peças para vender no Piauí. “A gente morava na beira da estrada e era ali que colocávamos as peças para vender. O povo que vinha no rali (Rali dos Sertões) comprava tudo.” Hoje, toda a família costura o capim. A preocupação é com o suprimento do material. “Tem gente que não sabe que o capim não pode ser colhido verde. Ele tem que ser colhido antes da chuva e bem seco. Quanto mais seco, mais dourado. E a gente tem que inventar coisas novas.” Exemplo disso, a artesã Alteni, que lá em Mumbuca já ensaia os primeiros passos para “fazer uma coisinha assim diferente, para enfeitar a minha mesa. Acho que é um vasinho com flores”. |