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Cícera Fonseca da Silva, conhecida como Ciça, mais velha de 11 irmãos, nasceu em 1935, no sítio do Brejo Seco, Juazeiro do Norte.
Trabalhava na roça com os pais e se dedicou exclusivamente ao barro somente depois de casada. “Mas tive uma herança ensinada por um tio meu, João Cândido Lira. Eu ajudava ele e ele me ensinava. Nos domingos, a gente pintava as louças e lá pela uma ou duas horas da manhã, ele ajeitava as peças num balaio e a gente caminhava até as feiras para vender. Na escuridão, muitas vezes a gente tropeçava e o balaio caía. Quebrava tudo.”
Mas a vida dura, seca em todos os sentidos, fez Ciça riscar de seu dicionário a palavra desistência. “A vida é comprida, viu? Eu casei e continuei trabalhando. O marido ficava meio aperreado porque não via resultado. Eu pedia paciência. Ele foi procurar outros trabalhos e eu fiquei enfrentando o barro. Um dia pedi ao velho sr. Francisco para me levar para a feira no Crato (CE). Ele aceitou e fomos. Vendi. Quando meu marido voltou, aceitou. Um dia, chegou à feira um casal importante, Francisco Xavier e Isabel Pedrosa, e comprou minhas coisinhas. Outro dia, um moço barbudo chegou e brincou comigo dizendo que queria uma máscara de carnaval parecida com ele. Eu disse que ia fazer esse assunto. Eu fiz três. Duas se salvaram. Quando cheguei à feira, foi um sucesso. Então continuei.”
Ela continua comprando o barro e com a ajuda do marido e do filho mais velho prepara a massa. As fisionomias vão surgindo. O real e o fantástico ganham outra dimensão nessas faces que estão espalhadas por todo o mundo.
“Eu tenho 70 netos e 11 bisnetos. De santo a cão, de tudo já fiz e se a gente não acreditar na nossa arte, quem vai dar valor?” |