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A saga da família de loucos, doidos e malucos, escultores extraordinários de Cachoeira, começou com o barbeiro Boaventura da Silva Filho, homem bem-humorado e talentoso, que recebeu o apelido de Louco.
Conta a lenda que ele era tido como uma figura exótica demais para o lugar e seu trabalho era muito criticado por alguns moradores. As freiras aconselhavam suas alunas a passar longe “desse trabalho de louco”. Ele gostou e tomou o apelido para si. Sua fama começou a se espalhar e Louco, falecido precocemente, aos 59 anos, num acidente de carro, inaugurou uma verdadeira escola de escultores em família e na cidade. Todos os seus parentes gostaram da brincadeira e buscaram a irreverência para assinar suas peças. Seu irmão Clóvis, que já faleceu, passou a assinar Maluco, e seus sobrinhos, Maluco Filho e Doidão Bahia. Seus filhos assinam Louco Filho e Mário Filho do Louco.
O mundo fantástico de Louco misturava-se ao real e ele explodiu, produzindo obras de uma força e sedução tamanhas que mexem com a emoção de quem quer que seja. As obras de Louco são magistrais porque ou se gosta muito ou não. Não existe meio-termo.
Sobrinho de Louco, Doidão Bahia – José Cardoso de Araújo –, nascido em Cachoeira, em 1950, é hoje uma espécie de guardião das obras do tio. “Meu tio começou fazendo cachimbos de madeira de cajá. Depois a gente passou a esculpir em pedaços de raízes, mas logo a coisa mudou. A gente pegava um pedaço de pau para trabalhar e só saía orixá.” Doidão Bahia começou a esculpir em Salvador, no Mercado Modelo, onde trabalhava, já sob influência dos trabalhos de seu tio. “Eu gosto de fazer peças muito grandes. Muitos parentes e outras pessoas também esculpiram e aprenderam com a gente, como meu irmão Dory (Lourival Cardoso de Araújo). Acho que aqui em Cachoeira criamos uma escola com desenhos muito próprios.” Doidão está preparando, em Cachoeira, uma espécie de acervo público, com peças do tio, dele próprio e de alguns parentes. |