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Antônio Jarder Pereira dos Santos está com 40 anos e seguramente ainda não brincou o suficiente para dizer “agora, vou ser sério”.
Graças aos céus, porque senão ele se tornaria um chato e a vida idem. Não veríamos mais as cores e a graça de suas engenhocas, brinquedos e também das suas telas.
Quando nasceu, na pequena Camocim (CE), quase divisa com o Piauí, certamente tudo parecia muito mais divertido. “Tinha brinquedos feitos para o verão e para o inverno. A gente mesmo fazia. Meu avô era carpinteiro e ficou cego. Então virou contador de histórias. E foi nesse universo fantástico, dessas histórias onde tudo pode acontecer, que eu cresci. Acho que desde aquele tempo transformava isso tudo em brinquedos. Minha avó, quando fazia suas viagens religiosas (romarias), acabava sempre trazendo um brinquedinho que comprava nas feiras. Rói-rói, piões, joão-teimoso, carrinhos, bichinhos.”
A coisa ficou tão séria que seu apelido, Dim, acabou sendo sobrenome das suas engenhocas. Seus brinquedos passaram a se chamar Brinquedim.
Hoje morando em um sítio bem próximo a Fortaleza, Dim diz que já se aventurou bastante. Tentou São Paulo (SP), mas a cidade não lhe trouxe paz. Esteve em outras capitais – muitas vezes só para expor seus trabalhos, outras para participar de oficinas e fazer algumas intervenções públicas, como em uma praça, no Rio de Janeiro (RJ).
“Agora sei do meu caminho. Sei que sou um artista. Engraçado que sempre era reprovado nas aulas de educação artística, mas sempre gostei de desenhar. Pintava com barro, com carvão, com o que estivesse na minha frente. Eu comecei a utilizar vários materiais que eram descartados por aí para fazer meus brinquedos. O meu joão-teimoso, com papel e isopor, nem sei, acho que já fiz umas 15 mil peças. Eles me lembram quando a gente era criança e passava um avião no céu. Todo mundo olhava para cima e levantava os braços. Eu queria alcançar um e sair voando. Acho que por isso, quando era bem pequeno, fiz duas asas de papelão para a minha bicicleta e saí voando pela rua e pelo quintal.
As pessoas achavam que eu era maluco. Eu era só feliz.”
Aliás, se depender dele, suas brincadeiras e brinquedos seriam espalhados pelo mundo todo. “Estamos precisando muito disso, porque o mundo está muito violento. Se uma criança passa o tempo todo vendo violência em suas mais diversas formas, quando crescer ela sentirá que isso é normal. Tenho certeza de que meu trabalho é bom, senão não seriam tantas as pessoas que gostam dele.” Esse novo Gepeto não precisou de grandes estudos para chegar aonde chegou e nem de boneco que virasse humano. Sua maestria é inata e seus brinquedos transformam as pessoas em seres mais humanos. Isso é extraordinário. |