“Meu pai sofreu um derrame recentemente. Está muito fraquinho e ele não gostaria que ninguém o visse desse jeito. Sempre foi um homem vigoroso.”
Foi assim que André Barbosa Cavalcanti explicou por que não seria possível fazer uma foto do pai, hoje com 91 anos. Mas ver as peças e conversar sobre sua história, isso sim.
Seu pai, conhecido como Manoel da Marinheira, já faz parte da galeria dos grandes escultores do Brasil. E grande em todos os sentidos. Não só pela maestria de seu trabalho como pelo tamanho de suas esculturas em madeira. Chegam a atingir mais de dois metros, tanto em altura como em comprimento.
André sempre trabalhou ao lado do pai, a ponto de ser conhecido como André da Marinheira. Além dele, Antônio, Severino e Maria Cícera, seus irmãos e filhos do primeiro casamento de seu pai, também esculpem e são todos surdos-mudos. Suas peças seguem os traços paternos, mas com mais movimento. Já Cícera surpreende com suas imagens de santas e mulheres. Também houve Soço, irmão de um cunhado de André, que morreu prematuramente e recebeu os primeiros ensinamentos pelas mãos do seu Manoel.
As histórias contadas por André dariam um livro. Ele e toda a família sempre sobreviveram do trabalho escultórico. “Meu pai, no início, não usava formão. Tinha suas ferramentas, facas, machadinhas e outras coisas. Só depois ele pegou no formão.” André fala de duas pessoas com muito carinho, como incentivadores do trabalho de toda a família: Celso Brandão, uma espécie de jornalista, que descobriu Manoel e o estimulou muito, e Jorge Tenório Maia, usineiro colecionador que agora está montando na Fazenda Bento Moreira, em Boca da Mata, o Museu Manoel da Marinheira.
De fato, o futuro museu impressiona. Logo na entrada, gatos e leões de dois metros de altura estão perfilados como esfinges.
O trabalho de Manoel sempre foi limpo, com desenho claro dos contornos dos corpos. Seus filhos começaram a dar mais movimento. “Eu comecei a modificar um pouco, acho que abrindo a boca, mostrando um pouco mais os músculos. Mas é só olhar e a gente sabe quem fez cada uma das peças.”
André conta que ele e seus irmãos continuam a usar mais a madeira da jaqueira, que não é controlada e é arrastada na preparação das roças. “A gente sempre pega as madeiras que não vão mais dar frutos.”
Outro diferencial do trabalho de André e seus irmãos é que passaram a esculpir peças de mobiliário como bancos e pés de mesa sempre cheios de bichos e pássaros, mantendo a temática paterna e a mesma estética. |