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Ana Rodrigues dos Santos, irmã de Ulisses Pereira, nasceu em 1926 no sítio Santo Antônio, onde vive até hoje. Ela conta que a família toda fazia potes com desenhos. “A gente tira os desenhos da própria cabeça e vamos vivendo como dá. Minha mãe e minha avó faziam boião para coar café, caçarola para cozinhar e potes de todo tipo. Antes, vinha mais gente comprar as coisas. Hoje tá tudo mudado. Tudo está muito difícil. Não temos estrada, não temos transporte e vem pouca gente para comprar.”
Com medo de que o irmão a visse sendo fotografada, Ana reclama que, por causa disso, é difícil ser divulgada. “Ele vira um bicho de bravo, não deixa ninguém da família tirar fotografia. Mas assim tem que ser e assim vamos vivendo.”
Filha de Ulisses Pereira, Margarida Pereira também esculpe. Seu trabalho começou espelhando-se nas esculturas paternas e pouco a pouco encontrou uma linguagem própria, que foi buscar nos desenhos e nas aplicações da cerâmica tradicional local os ornamentos para seus corpos com múltiplas cabeças. Ela sabe que não é fácil conviver com as intransigências do pai, mas respeita-o porque ele foi o grande mestre. Como ela mesma conta, muitas vezes surgem conflitos que acabam sendo superados com o tempo. Margarida casou e mora em outro sítio não muito longe dali, também de difícil acesso. Ali, toda a família transforma o barro em imaginários fantásticos. |